As atividades de vida diária (AVD) que fazem parte do cotidiano infantil incluem tarefas de automanutenção como banho, vestuário, alimentação, uso do banheiro, higiene oral e comunicação. O desempenho de tais atividades é importante para que a criança seja capaz de satisfazer suas necessidades básicas, garantindo-lhe maior independência e participação em seu ambiente domiciliar.
No contexto de desenvolvimento, o controle esfincteriano é um dos marcos do desenvolvimento infantil, considerado um dos primeiros passos para a criança se tornar autossuficiente. Entre os 2 e 3 anos de idade cronológica a criança atinge a maturidade neurológica e pode ser treinada para a aquisição deste controle.
Embora consideremos a idade cronológica, tal não deve ser o único referencial para iniciar este treinamento e sim, os sinais de prontidão que demonstram interesse e habilidades motoras adequadas. Sendo eles: caminhar, sentar, tirar e colocar roupas, comunicação e compreensão de ordens e comandos. Ou seja, nesta idade cronológica a criança já tem habilidades motoras como pré requisitos estabelecidos que favorecerão o processo do desfralde.
É importante sinalizar que com o passar do tempo, as crianças são apresentadas a outros contextos, o que antes girava em torno somente do seu ambiente familiar, passa a ser mais exploratório em outros meios (creches, escolas, terapias entre outros). Portando, o processo de desfralde deve ser realizado de forma tranquila, sendo necessário uma comunicação entre as partes, para que essas novas relações sejam bem aceita pela crianças. Ou seja, deve acontecer no momento em que a criança começa a ser exposta a mudanças e adaptações de novas rotinas.
Os pais e responsáveis não devem ter pressa nesse momento, pois a criança precisa possuir maturidade neurológica suficiente para controlar o esfíncter. Uma retirada abrupta ou forçada pode causar disfunções miccionais (incontinência urinária, constipação, encoprese, enurese), além de traumas psicológicos que podem vir a repercutir durante o desenvolvimento da criança.
Em crianças com o desenvolvimento atípico, o desempenho dessas atividades é, muitas vezes, a principal queixa de pais e familiares, e/ou da própria criança, juntamente com promoção na realização de tarefas de vida diária. Pensando nisso, desenvolvemos algumas dicas e estratégias que podem facilitar e direcionar neste importante processo.
Minha criança está preparada para iniciar o desfralde?
- Aspetos físicos:
- Já consegue exercer a marcha com equilíbrio;
- Permanece com a fralda limpa por algumas horas durante o dia;
- Já acorda com a fralda seca;
- Demonstra incomodo quando esta suja ou molhada;
- Demonstra de forma física ou verbal que está com vontade de fazer necessidades (se afasta, se esconde, fica agachado).
- Aspetos cognitivos:
- Compreende as palavras “xixi e cocô”;
- Consegue seguir instruções de 2 passos “vá na sala e pegue o controle”;
- Entende sinais físicos de que está com vontade de ir ao banheiro;
- Já tem uma rotina biológica (momentos e períodos aproximados).
- Facilitando o processo:
- Vista a criança de roupas leves e fáceis de tirar;
- Possibilite a entrada no banheiro: deixe a porta aberta, se utilizar penico, deixe-o em um lugar acessível.
- Use o brincar como estratégias fundamentais: fazer de conta da hora do cocô ou da hora do xixi; reproduzir a ação no faz de conta em si próprio (não apenas em bonecos).
- No processo da brincadeira, utilize instrumentos que se aproximem da ação: agua escorrendo, massinha de modelar marrom. Adicione esses instrumentos no brincar.
Utilize a capacidade de imitar para aprender:
- Dê modelos gestuais da ação para que a criança reproduza;
- Ensine a menina a se limpar de forma correta;
- Ensine o menino, inicialmente á fazer xixi sentado, depois em pé: mostre a ele como colocar o pênis para baixo, com a mão; à medida que ele aprender, sugira para o treino do xixi em pé na privada. (Pode usar um banquinho).
Identifique o perfil sensorial:
As dificuldades no processamento sensorial em meninos ou meninas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) comprometem, em graus variados, gerando dificuldades consideráveis que podem ocasionar padrões de respostas sensoriais que incidem negativamente em diversas áreas do desenvolvimento em seus mais variáveis contextos, refletindo, em muitos casos no processo de quando e como iniciar o desfralde.
Nesta perspectiva é importante identificar o perfil sensorial da criança. Observe se há uma resposta exagerada da criança diante de estímulos internos e externos: Hiper-reativiadade ao cheiro, textura, aparência do xixi ou cocô. Neste caso, é importante procurar um terapeuta ocupacional especializado em integração sensorial.
Hellen Patrícia O. de Souza dos Santos
Terapeuta Ocupacional
CREFITO 19936 – TO
Pós – Graduanda em Analise Aplicada do Comportamento
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REFERÊNCIAS:
SILVEIRA, A.D.; SANTOS, C.G.Ensino de Habilidades para pessoas com autismo: manual para intervenção comportamental intensiva. Belo Horizonte: CEI Desenvolvimento Humano, 2019, 216p.
CAVALCANTI. Alessandra; GALVÃO. Claúdia.; Terapia Ocupacional Fundamentação e Prática. Rio de Janeiro, 2007.